Publicado em 30/07/2020
Paulo Moura
Cientista Político, doutor em Comunicação pela PUCRS; mestre em Ciência Política pela UFRGS; e especialista em Educação à Distância pelo SENAC-RS.
Até pouco tempo, o ex-juiz Sergio Moro era tido e tratado como herói nacional pelos conservadores e ativistas, que derrubaram o governo petista e elegeram o presidente Bolsonaro, nas ruas e nas redes sociais. Muita gente idolatrava Moro. O mesmo acontecia em relação aos procuradores da Lava Jato, em especial Deltan e Luiz Fernando Lima.
A idolatria era tanta que sequer havia espaço para críticas aos “heróis”. Quem ousasse questionar algum procedimento dos protagonistas da Lava Jato ou mesmo alertar as pessoas quanto ao viés ideológico da turma era logo execrado e tratado como cúmplice de corrupção.
Em função disso, as críticas existiam e circulavam apenas à boca pequena entre lideranças conservadoras. Não deixa de ser engraçado perceber que, depois de passado algum tempo, alguns dos ataques desferidos pelos petistas ao time da Lava Jato talvez tivessem fundamento.
Moro e os procuradores da Lava Jato seriam simpáticos aos tucanos?
Moro e os procuradores da Lava Jato teriam ultrapassado alguns limites nas suas investigações e decisões sob pretexto da excepcionalidade da operação?
Ao longo do desenvolvimento das ações da operação Lava Jato, alguns indícios apareciam, mas eram relevados. Por exemplo: apesar de muitos sinais apontarem para esquemas envolvendo os tucanos de SP em crimes análogos aos do PT, as investigações sobre os tucanos nunca ganhavam destaque ou, quando algum tucano era pego, as prisões ficavam sempre nos escalões inferiores.
Curiosamente, bastou Moro sair do Ministério da Justiça para as investigações da Polícia Federal sobre tucanos graúdos (Aécio, Serra e Alckmin) começarem a gerar denúncias e indiciamentos.
Outro exemplo: os procuradores da Lava Jato sempre operaram articulados com aliados no Congresso Nacional. E a quem Deltan Dalagnol procurava quando precisava de uma mãozinha no parlamento? A Rede de Marina Silva. Sim, isso foi notícia e uma breve busca nas imagens do Google irá revelar Deltan Dalagnol na companhia do Senador Randolfe Rodrigues (Rede/AP) em mais de uma oportunidade.
Não obstante, muita gente na direita preferia não ver certas ligações dos operadores da caçada aos corruptos, assim como preferiam relvar certas estripulias dos “nossos heróis”, tangenciando os limites da lei para cumprir sua “missão histórica”.
Moro e os procuradores da Lava Jato tem méritos? Têm sim. Afinal, sem a Lava Jato jamais teríamos nos livrado do PT. É evidente que ficou muito mais difícil assaltar os pagadores de impostos depois da Lava Jato. Mas daí a serem santos ou heróis vai uma distância bem grande.
Embora percebesse as inclinações políticas à esquerda de Moro e dos procuradores da Força Tarefa do Ministério Público Federal, eu confesso que cometi um erro de avaliação sobre o ex-juiz, achando que ele teria uma inteligência acima da média. Afinal, Moro sempre parecia estar vários passos à frente dos investigados que eram alvo dos inquéritos do MPF, sempre derrotados em seus intentos quando dependiam de decisões de Moro.
Recentemente, no entanto, quando ele desembarcou do governo da forma como saiu, eu ficava me perguntando: para fazer isso, Moro tem que ter alguma carta na manga... Moro não apresentou provas, mas deu pistas para serem encontradas... Pensamentos assim povoavam minha mente, e sei que não fui o único a pensar assim.
Mas agora, observando bem, concluo que, além de vermos confirmadas suas inclinações centro-esquerdistas, o que para mim não é novidade, percebo que Moro está muito aquém de ser aquele gênio que imaginávamos a cada lance ousado dele na Lava Jato.
Pois foi ao fazer essa constatação que me veio à mente uma história que me foi contada já faz algum tempo. Não tenho como provar se é verdade, mas quando me lembrei dela, tudo começou a fazer sentido. E como eu sei que a direita adora uma teoria da conspiração, vou contar.
A verdadeira origem da operação Lava Jato não seria o famoso posto de gasolina de Brasília onde ocorreu a batida da Polícia Federal que desencadeou toda a trama. A origem seria os EUA. Sim, os Estados Unidos monitoram os fluxos de dinheiro que circulam pelo sistema financeiro internacional.
Assim, o FBI e a CIA detectaram o dinheiro do Petrolão flutuando estranhamente na rede, e, numa época em que vários governos da América do Sul eram bolivarianos, imaginaram que poderia se tratar de financiamento do terrorismo ou do narcotráfico. Ou ambos, dadas as ligações da guerrilha com os traficantes.
Feita a constatação, o governo americano teria entrado em contato com o general Villas Boas, então comandante das Forças Armadas, para pedir providências. A partir daí, tornou-se necessário encontrar um juiz e um time de procuradores para “descobrir”, investigar, julgar e punir os envolvidos, desmontando aquele que veio a ser o maior escândalo de corrupção do mundo.
Para demonstrar toda a competência que demonstraram, Moro e alguns procuradores do MPF teriam sido treinados no EUA, pela CIA e pelo FBI, em operações de rastreamento de dinheiro ilegal. E mais, seriam informados regularmente sobre a conduta dos corruptos monitorados pelos sistemas de grampeamento telefônico e o rastreamento de dados na internet. A própria Dilma Rousseff, então presidente da República, teria sido grampeada pelos americanos (http://g1.globo.com/politica/noticia/2015/07/lista-revela-29-integrantes-do-governo-dilma-espionados-pelos-eua.html).
Quem tem boa memória irá se lembrar das inúmeras palestras que Moro costumava dar em universidades norte-americanas. Deltan Dalagnol também fez suas viagens aos EUA.
No momento em que abandonou sua carreira na Justiça para fazer política, a genialidade de Moro ficou do seu tamanho real. Moro vem cometendo erros em cima de erros. Mostra-se vaidoso, despreparado para a política e joga um joguinho manjado e previsível, muito distante daquela suposta genialidade que eu, e muita gente, imaginávamos que ele tinha.
Ao sair do governo como saiu, Moro tornou claro seu projeto político: ser o candidato da centro-esquerda contra Bolsonaro. E, para assim agir, certamente Moro não tomou essa decisão sozinho. Deve ter recebido garantias de que sua retaguarda estaria coberta por grupos políticos e econômicos contrariados com a vitória eleitoral do presidente Bolsonaro.
Vozes experientes na política, no entanto, têm feito chegar à imprensa avaliações de que Moro não vai nem ali na esquina com seu projeto. A imagem do político Moro está se desgastando ao ser percebida pela opinião pública em toda a sua soberba e despreparo para o jogo político.
Moro já havia feito inimigos na esquerda, no centrão e no STF. Todos desejam vingança e querem ver Moro politicamente liquidado. Ao longo de toda a operação Lava Jato e de sua entrada no ministério de Bolsonaro, quem deu sustentação para Moro nas ruas e nas redes foi a direita. Não mais.
Para se eleger, Moro precisará de legenda e, para preservar a imagem de outsider, não poderá concorrer pelo partido do seu coração. O candidato Moro precisará de um partido pequeno para manter as aparências e esconder quem de fato são seu aliados, que certamente estão ocultos e são muito mais fortes e poderosos do que o Vem Pra Rua e o Antagonista que, nesse momento fazem às vezes de “partido da Lava Jato”, a serviço do projeto político do ex-juiz.
Ninguém que entende do jogo do poder acredita no futuro do Moro na política. Esse descrédito talvez seja o primeiro adversário que Moro precisará derrotar para tirar o PT do segundo turno de 2022, que, pelo menos até o momento, aparenta ser, de novo, o adversário de Bolsonaro na próxima eleição presidencial.
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