Publicado em 31/05/2020
Ricardo Roveran
Eram meados do início daquilo que hoje viríamos a chamar de civilização ocidental. Um sujeito calvo e barbudo, extremamente dócil e simpático, de currículo militar e vida familiar repleta, com uma capacidade de raciocínio indubitável lançou mão de tudo para explorar a tal da verdade.
Alguém lhe disse, elogiosamente, que seria ele, Sócrates, o mais sábio entre os homens. Ao que ele, por sua vez, rejeitou dizendo que a única coisa que realmente sabia, era que não portava a sabedoria.
Entendam. Naquela época, ser “sábio” era um status social, uma coisa bela, um adjetivo de adorno nobre.
Naquela mesma região da antiga Grécia e seus arredores, muitos homens eram assim chamados “sábios”, ou no termo grego, “sofistas”.
Esta tara grega por alcançar este status de “sofista” se deu por uma confraria que honrara aquela população, que construíra sua história a partir de seus heróis. Estes sim, nobres, sofridos e consagradamente vencedores.
Voltando aos primórdios da civilização grega, um historiador do século III, Diôgenes Laêrtios, registra este momento da “Confraria dos 7 Sábios” de forma impressionante e esclarecedora.
Não se tratavam exatamente de sete homens, provavelmente de um número superior, e dificilmente o autor teria encontrado precisão absoluta, dado que o esforço incansável de Diôgenes se deu após praticamente oito séculos do evento histórico ter acontecido.
A chamada Confraria dos Sete Sábios foi um momento da história que inaugurou praticamente a alta intelectualidade grega. Homens que se aposentavam da vida pública, ex-políticos, ex-juízes, ex-comandantes, entre outros titulares de lideranças relevantes, civis e militares, encontravam-se para discutir assuntos que estavam muito acima daquilo que o vulgo tratava. Estamos falando de gente que passou a desprezar a política, as riquezas e demais benefícios que chamamos de “status”, para então dedicarem-se a assuntos muito mais elevados, como astronomia, matemática, a qualidade das decisões políticas, entre outras. Isso, sem requerer para si nada além da satisfação do exercício que se empenharam.
Encontravam-se, discutiam, debatiam, buscavam a verdade, e faziam isso com pureza de alma.
Com o tempo, as pessoas mais comuns, percebendo que tratavam de assuntos elevados e possuíam já uma carreira sólida encerrada, passaram a procurá-los para se aconselharem nos mais diversos tipos de problemas. Afinal de contas, provavelmente, com estas características, eles “sabiam”. Oras, o detentor da sabedoria, é por definição, o sábio.
Assim ficaram conhecidos: os sábios, ou sofistas.
Com o tempo, o título de sábio começou a se popularizar. Afinal, agora existiam além do substantivo, além da carga semântica que a palavra contém. Era possível realizá-lo, tornar real, era possível tornar-se um sábio, um sofista.
O título de sofista se tornou algo grandioso, como o de doutorado é à nossa sociedade a que somos contemporâneos.
Assim, como um fetiche social, homens dedicavam tempo, esforço e muito, mas muito dinheiro, para tornarem-se enfim, sofistas.
Muitos evocaram para si o título de sofista, como fazem os coachs atualmente. No entanto, o que eles realmente faziam era ensinar oratória, ou seja, a superfície linguística, a aparência de sabedoria. Oras, qualquer um que fale bem será visto com respeito pela sociedade, sem necessariamente conhecer o assunto que trata em profundidade.
Picaretagem é o nome adequado para discernir a prática, mas aquele povo mais inocente pagava altos preços para estudar, crendo lidar com verdadeiros sábios, reais sofistas, como os da Confraria que já eram falecidos na altura.
Os sofistas gregos enriqueceram ensinando oratória e noções de direito na altura, mas quando observados os discursos, o que se percebia de consistência era apenas puxação de saco, persuasão mesmo. Longos discursos como registrado historicamente por Protágoras que eram sim belos de se ouvir, mas que nada acrescentavam além de um apelo de autoridade do autor. Após todas aquelas palavras persuasivas, o que se podia abstrair era: “me respeite, eu sei o que falo”.
O conteúdo dos discursos sofistas, além disso, eram algumas vezes enaltecedores a alguns homens dos quais pretendiam alcançar favores, ou hostis a aqueles outros de quem pretendiam não se enturmar.
Vejam bem, se alguém elogia outro buscando favores com um belo discurso, ou hostiliza outrem afastando-se de sua influência, do que estamos falando precisamente? Política. Ajuntar ou dividir, para conquistar.
Mutreta pura, maquiagem, dissimulação, horrível diante da ética, mas espere: é real, é humano, e novamente, para nossos dias, é outra vez real. É precisamente isso o que acontece.
A pureza de Sócrates, a seu tempo, na busca pela verdade, incomodou estes sujeitos, essa classe de pilantras chamada erroneamente de sofistas, de sábios, pois um a um, foram sendo desmascarados pelo grego insaciável de conhecimento.
Percebendo a picaretagem, Sócrates acabou condenado a morte pela justiça, mesmo após ter realizado uma das mais brilhantes defesas em um tribunal e sozinho, sem o auxílio de um advogado.
O homem ficou preso, tomou a cicuta e dormiu no Senhor, que posteriormente o honrou.
“Eu sou o caminho, a verdade e a vida, e ninguém vai ao Pai senão por mim”, disse Jesus Cristo. E não é que Sócrates buscava sobretudo pela verdade? A quem o grego buscava ao ponto de ser morto, senão por Cristo? Obviedade das obviedades.
Sócrates, embora o campeão da realidade, lembrado após mais de dois milênios com honra indelével, desconsiderou algo que o levou à morte: os seres humanos.
Nem todo ser humano tem a pureza na alma. Nem todo homem é homem, em sentido estrito e amplo. Pelo contrário, a grande maioria está à venda e muitas vezes por um preço baixinho, alguns por dinheiro, outros status.
Neste 2020, há aqueles que se auto-glorificam com o título de juízes, desembargadores, ministros de uma Suprema Corte, que, sentem-se felizes no exercício de um poder que já abandonou a verdade há muito tempo.
Deputados, senadores, governadores e prefeitos no Brasil atual são isso mesmo: sofistas. Picaretas que, no fundo, amam o poder e dele apoderam pelo engano, pela mentira, pela inconsistência espiritual na qual mergulharam e da qual não voltarão.
Talvez, considerando todo esse cenário porco no qual estamos mergulhados, seja o momento correto, uma nova chance, para entendermos que a paz só se alcança quando o povo valoriza sobretudo os homens honestos e despreza os que demonstram apreço pelo poder.
Se um homem não está buscando a verdade, abandonou Jesus Cristo e seu companheiro de viagem é obviamente, o próprio Satanás.
E quem endossa esses tipos, só pode encontrar no final do túnel, não a luz, mas mandados de busca e apreensão injustos, mandados de prisão, convocações a depor em tribunais a políticos acusados de toda sorte de putrefação espiritual.
Eu sou a voz que clama num deserto de ideias, de percepção e de valores: endireitem vossas veredas, ou acabarão numa ditadura comunista.
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